Para banqueiros, manter vigilantes vai provocar aumento das metas
Os empresários do sistema financeiro querem eliminar definitivamente os vigilantes das agências bancárias e pretendem remover vários dispositivos de segurança das unidades. Foi o que ouviram os membros do Comando Nacional na rodada de negociação desta quinta-feira, 28. O representante dos patrões chegou a argumentar que manter os guardas aumenta o custo de operação das unidades e que, para que não fiquem deficitárias, a solução seria aumentar ainda mais as metas de vendas de produtos.
A proposta não só é abusiva, como não se sustenta com o argumento exposto. “As agências já têm este custo, não vai haver nenhum acréscimo. Falar em aumentar as metas é uma forma de tentar pressionar o movimento sindical a aceitar esta medida”, critica Adriana Nalesso, presidenta da Federa-RJ e integrante do Comando Nacional.
Esta não foi a única proposta absurda apresentada. A eliminação das portas giratórias de todas as unidades, que os bancos já vêm tentando impor há muito tempo, também foi defendida pela representação patronal. A Fenaban argumenta que muitas agências são unidades de negócios e não precisam de tantos dispositivos de segurança. “As agências não podem funcionar sem equipamentos e vigilantes. Os bancos se importam somente com a segurança patrimonial, mas a vida dos bancários e bancárias e também dos clientes e usuários não pode ser colocada em risco”, defende Adriana. A alegada necessidade de cortar custos mesmo em prejuízo da segurança é despropositada, sobretudo num setor que lucra bilhões todos os anos, independentemente da situação econômica do país.
Criminalidade
Os bancos argumentam que os índices de criminalidade diminuíram e que, portanto, não seria necessário manter um aparato completo nas agências. Mas o que se observa é que o número de armas de fogo em circulação aumentou drasticamente e há organizações criminosas atuando em muitas cidades. “Aqui no Rio foi preso o integrante de uma quadrilha altamente violento. Numa ação, ele arrastou uma senhora para dentro da agência, em outra ocasião agrediu a coronhadas vários clientes. Sem vigilantes e dispositivos de segurança, bancários e bancárias e população ficam a mercê destes criminosos”, lembra Adriana Nalesso. A dirigente ressaltou, ainda, que clientes e usuários já ficam expostos à violência quando são desencorajados ou até impedidos de usar as dependências bancárias e são encaminhados aos correpondentes, onde não há obrigatoriedade de segurança privada.
Além de forçar a retirada de dispositivos na negociação, os banqueiros correm por fora, atuando para mudar a legislação. A segurança privada é regida pela lei 7.102, que vem sendo interpretada de forma muito liberal nos últimos anos. A Fenaban já obteve da Polícia Federal pareceres supostamente técnicos que são favoráveis à flexibilização da obrigatoriedade de alguns equipamentos.
O poder de influência dos banqueiros aumentou significativamente com a extinção da CCASP – Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada, em 2019. A comissão, coordenada pela PF, contava com representantes do movimento sindical dos bancários e também dos vigilantes. “O fim da CCASP eliminou a sociedade do debate sobre segurança. Um tema de tamanha relevância não pode ser debatido sem a presença de todos os segmentos interessados”, argumenta a presidenta da Federa-RJ.
A negociação acabou sem nenhum avanço e a Febraban se comprometeu a voltar à discussão em rodadas futuras.