Na Mesa de Negociação Bancária sobre Diversidade, Inclusão e Pertencimento, realizada nesta sexta-feira(30), em São Paulo, o próximo Censo da Diversidade esteve em pauta. As perguntas para o questionário do Censo serão definidas na reunião do Coletivo, agendada para a próxima semana.
Na negociação, foi apresentado pela Fenaban um relatório de pesquisa sobre a temática, em que participaram 35 bancos. Em sua maioria incluíram nas informações os temas relacionados às cláusulas sociais da CCT da categoria. Dos bancos que responderam à pesquisa, a maior parte agregou em suas políticas as questões relacionadas às mulheres, PCDs e à população LGBTQIAPN+, com ênfase em pessoas trans. Dos bancos participantes, 100% já possibilitam o uso do nome social.
Um tema enfatizado em mesa foi o aumento da discriminação a bancárias e bancários negras(os). A gravidade da situação foi exemplificada através de denúncias feitas aos sindicatos: “nem penteia o cabelo, como vai bater a meta?” “Sempre tem que ter um negro pra trabalhar”.
Foi solicitado aos bancos, a formatação de um protocolo que oriente as(os) bancárias(os) sobre o procedimento a ser adotado em questões relacionadas a qualquer tipo de discriminação. Os bancos alegaram ter em seus códigos de ética orientações a respeito, mas o fato é que muitos não sabem como agir.
Adriana Nalesso, presidenta da Federa-RJ, participou da mesa juntamente com o presidente do Sindicato dos Bancários Rio. Ela ressalta a importância dessa negociação.
“A mesa da diversidade tem 23 anos, já conquistamos cláusulas sociais muito importantes como a ampliação da licença maternidade e paternidade, inclusive para casais homoafetivos, mas é fundamental criarmos mais oportunidades de ascensão na carreira e igualdade salarial para mulheres, PCDs, negras e negros e LGBTQIAPN+. Quando falamos em inclusão e pertencimento é fundamental o olhar direcionado para essas bancárias e bancários que querem ter seu trabalho reconhecido”.
Adriana destacou também a urgência de combater o etarismo.
“Os dados dos grandes bancos revelam que entre os privados, na média, só 8% de pessoas tem mais de 50 anos. Vale ressaltar que a pirâmide etária no Brasil está mudando, já não somos mais um país tão jovem. É fundamental criar oportunidades para esse público. Notamos que cada vez mais diminui o número de bancárias e bancários com 50+. Combater essa discriminação também é nossa missão, afinal essa população quando é desligada tem mais dificuldades de recolocação no mercado de trabalho. Os bancos precisam se responsabilizar também”, afirmou.
Confira abaixo os dados e a importância da criação de um protocolo de atuação em caso de racismo e LGBTfolia
Pessoas com deficiência (PCD)
O levantamento da Fenaban revelou que 18.528 pessoas com deficiência atuam no setor bancário, o que corresponde a 4,28% da categoria.
Sobre o cumprimento da Cláusula 116 da CCT — que garante abono de ausência para reparo ou conserto de próteses —, foram registradas 101 ocorrências: 52 delas entre setembro e dezembro de 2024 e 49 de janeiro a abril de 2025.
“A Cláusula 116 da nova CCT começou a ser aplicada assim que foi assinada. Só entre setembro e dezembro do ano passado, tivemos 52 trabalhadores utilizando esse direito, o que mostra a importância dessa conquista para os PCDs da categoria”, destacou a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira.
Licença-maternidade e licença-paternidade
De acordo com os dados apresentados:
84% dos bancos já ampliaram a licença-maternidade de 120 para 180 dias e a licença-paternidade de 5 para 20 dias;
6% disseram que adotarão essa ampliação até o primeiro semestre de 2026;
Outros 6% ainda estão analisando e 4% não deram previsão;
100% dos bancos garantem o mesmo tratamento a casais homoafetivos.
Os números demonstram o avanço na utilização do benefício:
• Das 7.269 licenças-maternidade concedidas, 99,6% (7.240) foram de 180 dias;
• Das 6.770 licenças-paternidade, 99,4% (6.732) foram de 20 dias.
Questões LGBTQIA+
Entre os bancos que responderam à pesquisa:
• 97% reconhecem uniões homoafetivas estáveis e aplicam os direitos da CCT aos cônjuges;
• 71% orientam que cônjuges do mesmo sexo tenham acesso ao plano de saúde do companheiro bancário;
• 3257 pessoas já são dependentes nos planos de saúde dos seus cônjuges dentro dessas instituições;
• Sobre declarações de repúdio à discriminação LGBTQIA+:
– 71% já publicaram;
– 14% farão isso até o fim de 2025;
– 3% até o primeiro semestre de 2026;
– 11% estão pendentes.
• Sobre declarações de apoio à igualdade com destaque às pessoas trans:
– 69% já declararam;
– 11% farão em 2025;
– 3% até o primeiro semestre de 2026;
– 17% estão pendentes.
• Informações internas sobre respeito à população LGBTQIA+:
– 91% dos bancos informam seus empregados;
– 6% farão isso até 2025;
– 3% estão pendentes.
• Canais de apoio:
– 86% dos bancos disponibilizam canais para tratar de temas LGBTQIA+;
– 8% irão implementar ainda este ano;
– 3% até o 1º semestre de 2026;
– 3% seguem pendentes.
Vale destacar que 94% desses canais são os mesmos utilizados para denúncias de assédio moral, sexual e outras formas de violência.
População trans
A pesquisa da Fenaban identificou 233 pessoas trans trabalhando no setor bancário. Os dados mostram que:
• 77% dos bancos que responderam à pesquisa têm pessoas trans em seus quadros;
• 20% não forneceram a informação;
• 3% afirmaram não controlar esse dado.
Além disso:
• 100% dos bancos garantem o direito ao uso do nome social;
• Sobre a divulgação de iniciativas de diversidade, inclusão e pertencimento:
– 74% dos bancos já disponibilizam essas informações aos empregados;
– 14% farão isso até 2025;
– 3% até o 1º semestre de 2026;
– 9% estão pendentes.
4º Censo da Diversidade
O Comando Nacional dos Bancários cobrou a criação de um grupo de trabalho para a construção do 4º Censo da Diversidade, compromisso assumido pelos bancos na última campanha.
A Fenaban informou que contratou o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) para conduzir a pesquisa e apresentou um cronograma: o censo será aplicado na terceira semana de setembro de 2025, com divulgação dos resultados a partir de fevereiro de 2026.
O próximo encontro para definição do questionário e do cronograma acontecerá na quinta-feira, 5 de junho, às 14h, com a participação de bancários, Fenaban, Ceert e o Dieese.
Protocolo de atuação em casos de racismo e LGBTfobia
Durante a mesa, os representantes dos bancários solicitaram a criação de um grupo de trabalho para elaborar um protocolo de atuação em casos de racismo e LGBTfobia, tanto entre colegas de trabalho quanto de clientes contra trabalhadores.
A Fenaban reconheceu a importância do tema, mas como não estava preparada para tratá-lo nesta reunião, sugeriu que o assunto seja debatido em uma próxima mesa.