Foi um sucesso a 3ª Conferência Estadual das Bancárias e Bancários do Rio de Janeiro. O evento teve abertura oficial na sexta (16/07), de forma online, com a participação dos presidentes dos sindicatos dos bancários de Campos, Rafanele Alves; Niterói, Jorge de Oliveira; Petrópolis, Marcos Alvarenga; Sul Fluminense, Júlio Cunha; Rio de Janeiro, José Ferreira; e Teresópolis, Cláudio Mello; as presidentas Adriana Nalesso, da Federa-RJ; e Juvandia Moreira, da Contraf-CUT; e os presidentes das centrais sindicais, CTB, Paulo Sergio Farias; CSP/CONLUTAS, Gualberto Tinoco, o Pitéu; e CUT-Rio, Sandro Cezar.
Juvandia Moreira, destacou a importância dos debates nacionais para reconstruir o Brasil com renda, qualidade de vida, mais empregos e oportunidades. “Se nós queremos um país justo, é necessário mudar a carga tributária que hoje beneficia os ricos e super-ricos. E é preciso reduzir juros para que a economia possa crescer. Isso está impactando o comércio, o custo para empresas, gerando desemprego e problema social muito grande”, avaliou.
Em pauta durante a abertura, também estavam os desafios da categoria, como as novas tecnologias e a preocupação com o estado de saúde de bancários e bancárias, devido às péssimas condições de trabalho e o aumento das demissões, com redução de postos de trabalho.
Debates presenciais
Já no sábado (17/7), o encontro foi presencial, no Clube Português, em Niterói. O Sindicato dos Bancários de Niterói foi o anfitrião do evento que reuniu mais de 250 bancárias e bancários. Durante o dia, foram enfrentados debates sobre temas que afetam diretamente a categoria bancária: como inteligência artificial, assédio e falta de representatividade.
A primeira mesa foi sobre conjuntura com a presença dos presidentes do Sindicato dos Bancários de Niterói, Jorge Martins, e do Rio de Janeiro, José Ferreira, além dos convidados: a educadora Greyce Kelly, o deputado federal Reimont e o vereador de Niterói, Leonardo Giordano.
Na sua análise, Greyce Kelly fez críticas duras à resistência da igualdade de oportunidades de gênero e racial na categoria bancária, que inclui o movimento sindical. A doutora em educação também falou os malefícios da terceirização e destacou a importância dos sindicatos na ampliação de direitos.
“A categoria de vocês vive uma exploração do capital expressiva. Negociar com banqueiro a necessidade da divisão do seu lucro não é fácil. E é um papel que os dirigentes sindicais da categoria fazem e se esforçam para garantir a ampliação direitos”, comentou.
O vereador Leonardo Giordano demonstrou uma preocupação quanto ao uso da inteligência artificial para substituir o trabalho humano. Segundo ele, a categoria não é contra a tecnologia, mas que ela deve estar a serviço do bem do povo brasileiro, não substituindo a mão de obra e retirando o emprego do trabalhador.
O deputado federal Reimont colocou em pauta a importância das denúncias contra o assédio sexual e moral. Ele citou o caso da Caixa Econômica Federal, cobrando prisão para Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa acusado de assédio sexual e moral contra funcionários(as) do banco. Reimont destacou que não é uma prática exclusiva na Caixa e medidas precisam ser adotadas em todos os bancos.
Mesa sobre Avanços Tecnológicos, novas formas de trabalho e organização.
Na mesa com o economista Gustavo Cavarzan, do Dieese, e a socióloga Ana Cláudia Cardoso, os debatedores chamaram atenção para o controle dos dados pelas plataformas, o controle tecnológico que cobra metas desconsiderando a realidade de cada bancária e bancário, e o investimento das empresas em aplicativos para controlar o home office.
Ana Claudia traçou um panorama da transformação com a chegada da tecnologia até os dias de hoje, em que vivemos uma busca por controlar, organiza, legislar e impor limites entre os atores. A socióloga recuperou o percurso histórico dos impactos tecnológicos, desde a década de 1970, com a primeira transformação com entrada do microprocessador e microchip; em 1980, a chegada dos computadores pessoais, digitalização telecomunicações, telemática, digitalização, comércio de dados; e as mudanças que foram consolidadas em 1990, com a euforia e a chegada do telefone móvel, internet, prefixo “e” – e-comércio, e-banco, e-governo, e-economia, que atraíram excessivos investimentos e expectativas (financeirização da economia).
Ana Claudia explicou que 2001/2002, começou a mudança e a crise com o estouro da bolha especulativa. Já em 2014, houve a intensificação da precarização do trabalho. Passados quatro anos, 2018 foi marcado pela falta de regulamentação atingindo setores do trabalho formal.
Também fizeram parte da mesa, o presidente do Sindicato dos Bancários de Teresópolis, Claudio Mello, e dirigentes de Campos e Rio de Janeiro.
Reforma Sindical em debate
A terceira mesa do dia foi com o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, sobre reforma sindical. Ele explicou que atualmente, existe um grupo de trabalho elaborando projeto, em discussão com empresários, para apresentar proposta comum ao governo Lula. A intenção é alinhar alguns pontos e valorizar a negociação coletiva para fortalecer novamente os sindicatos, duramente atacados nos últimos anos.
Para Ganz Lúcio, o grande desafio é estar atento as mudanças que estão acontecendo no mundo do trabalho. O movimento sindical precisa estar em sintonia com essa transformação. Além disso, não podemos aceitar a fragmentação dos sindicatos com o discurso de liberdade sindical.
Ainda segundo o especialista, outro ponto que está em debate na reforma sindical são regras para a eleição dos sindicatos. Vamos propor processo de transparência, mandato de quatro anos e prestação de contas.
“Nosso projeto é para dar cinco passos para renovar o movimento sindical. Temos uma preocupação em estar antenados com a pauta jovem dentro do sindicato. São muitos desafios. Precisamos entender como faz greve por home office. O sindicato precisa se conectar com a base para desenvolver um projeto para atender à classe trabalhadora neste novo mundo em que vivemos”, chamou atenção.
Mesa de Comunicação
A luta por direitos, pela democracia e o enfrentamento dos desafios do mundo do trabalho passam pela comunicação. Essa foi a mensagem principal da mesa que abordou comunicação com os jornalistas Paulo Salvador e Rosangela Fernandes. O diretor da Rede TVT, a TV dos Trabalhadores, Paulo Salvador, ressaltou a importância de fortalecer a comunicação comprometida com o interesse da classe trabalhadora, ocupando espaços da mídia tradicional.
“Os grupos de comunicação no Brasil são liberais, defendem os interesses dos empresários. A TVT tem um projeto político e um lado definido: o da população. Por isso, é fundamental que as entidades se unam e fortaleçam esse tipo de iniciativa”, afirmou.
A coordenadora da ONG CRIAR BRASIL, Rosangela Fernandes, abordou a necessidade de engajamento dos dirigentes sindicais na disputa de narrativa.
“O bolsonarismo não morreu e segue se utilizando de desinformação, negacionismo, discurso de ódio. Os sindicatos são alvos permanentes de ataques e nossa força está no envolvimento de cada dirigente”, afirmou.
Também fizeram parte da mesa, dirigentes de Niterói, Teresópolis e o presidente do sindicato dos Bancários de Campos.
Encerramento
Na última mesa, foi aprovada uma moção de repúdio ao Banco Santander, pela atitude antissindical em relação ao presidente dos bancários de Campos de Goytacazes, Rafanele Alves, e toda diretoria que está impedida de exercer suas atividades sindicais nas agências do banco na cidade. Confira a moção.
Os presentes, realizaram ainda a apreciação das propostas para a Conferência Nacional, que acontecerá dias 4 a 6 de agosto, e eleição dos delegados e delegadas do Rio de Janeiro. Confira aqui a listagem.
A Conferência foi encerrada pela presidenta da Federa-RJ, Adriana Nalesso.
“Nossa Conferência mostrou que temos muito desafios, entre eles, de enfrentar os problemas da categoria e discutir o papel social dos bancos públicos. Temos que ter orgulho da nossa história, valorizar as conquistas de uma categoria que serve de referência para a luta sindical nacionalmente. Nos orgulharmos do passado nos preparando para o futuro. Por isso, nosso grito de guerra é: luta e resistência! Sempre!”, afirmou.